Eram assim os tempos: aprendia-se na escola e ficava para a vida. A Senhor Dona Maria ensinou tudo às meninas de Rebordainhos que, hoje, sendo a geração dos mais velhos, ainda reproduzem, de cabeça, aquilo que aprenderam. Eis a senhora Conceição que, sem errar uma letra, disse de cabo a rabo cada um dos três poemas que, a seguir, se transcrevem.
Disse, não. Declamou! Eu não estava lá, não ouvi, mas olhando para as fotografias percebe-se bem com que entrega e alegria ela o fez. É assim mesmo, senhora Conceição. Bem-haja por isso e por muitas outras coisas.
Fátima Stocker
OS CASTANHEIROS
Que lindos Outeiros
Ao longe a Montanha
Que bons castanheiros
Que bela castanha
Por entre os arbustos
Do souto já velho
Fumega o magusto
Há lume vermelho
A gente da aldeia
De roda à porfia
Cantando semeia
Canções de alegria
Que vida tamanha
Por estes Outeiros
Que bela castanha
Que bons castanheiros
O CARVALHO ESBURACADO
Caem folhas de uma a uma
Na relva verde do prado
São folhas dos castanheiros
Do choupo e dos sobreiros
Do carvalho esburacado
As folhas amarelinhas
Vão caindo, vão caindo
Parece o choro das plantas
Martirizadas e santas
Pelo sol que vai fugindo
A planta fica despida
Fica triste, fica nua
Assemelha-se a um pobrinho
Sem amparo, sem carinho
Como estes que andam na rua
Pobre planta sem folhinhas
A tremer, a tiritar,
É como um bebé sem lar
Para aquecer as mãozinhas.
CASEBRE DOIRADO
Vivo além no meu casebre
Onde há cheiro a rosmaninho
Onde nasceram meus pais
E os rouxinóis fazem o ninho
Foi lá que aprendi a rir
A cantar, a trabalhar
Saio sempre entre cantigas
E volto sempre a cantar
Dizem que no meu casebre
Tudo aparenta a pobreza
Não me importo do que eles dizem
Se para mim tudo é riqueza
Eu não troco o meu casebre
Por um palácio doirado
Que não cheira a rosmaninho
Nem tem ninhos no telhado
Fotografias da Céu Fernandes
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Nota: o poema dos castanheiros (a que acrescentam refrão) integra o cancioneiro do Rancho Folclórico de S. Tiago, de Mirandela. Quem quiser ver a página desse rancho, pode clicar sobre o sublinhado
9 comentários:
Sr.ª Conceição
Muito obrigada por esta boa memória e por saber dizer tão bem!
Um beijo muito grande
Para a Sr.ª Conceição aqui vai um abraço muito especial com muita estima e consideração.
Penso seria muito interessante gravarem-se os versos.
Até parece que consigo ouvir a tia Conceição. Que bom é termos na nossa comunidade estas enciclopédias vivas! Necessário é dar-lhes o valor que merecem.
Obrigada, tia Conceição, e obrigada a quem fez a recolha. (imagino que foi a Céu, não?)
Beijos
Augusta
Augusta
Sim, fui eu que fiz a recolha. Não imaginas o entusiasmo e o orgulho com que ela o fez.
Conta muitas coisas desse tempo de escola. Por exemplo, que ia às escondidas à escola, desenhava tão bem, que a Dª. Maria até mostrava os desenhos à Dª. Graça.
Um dia, em conversa com ela, disse-lhe: A Mãe se tivesse estudado, hoje era engenheira! Respondeu prontamente: Não, era arquitecta!!!!
E tem muito mais.....
Beijos
Céu
Então já sabes: há que continuar com a recolha.
Beijos para ti e para ela
Augusta
Que bonitos versos, tia Conceição!E que boa memória!Bem haja.
Parabéns à Céu, não só pela recolha oportuna(estamos no Outono, época da castanha...)como também por todo o trabalho que tem dedicado à associação e a este blog.
Obrigada
Olímpia
Parabéns, moça! Estás uma poetisa de mão cheia e tens uma memória bem melhor do que a minha.
Além do mais, estás bem parecida com a nossa avó Tonha que também sabia bem de histórias e lenga-lengas que eu não soube aproveitar enquanto podia.
Manda mais, que eu estou a fazer uma recolha.
Um abraço
António,
A minha Mãe agradece o teu comentário e prontificou-se a mandar mais.
Soube-me dizer que as "papoilas" era ela que as declamava, a "casinha branca" a tia Angélica,
os "rapazes de Rebordainhos" é que já não se lembrava.
Prometo fazer a recolha para postar aqui.
Beijinhos
Céu
Este anónimo foi engano
Céu
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