quinta-feira, 16 de julho de 2009

Acidente de viação ocorrido em 1959

Lembremos as vítimas de um grave acidente, que já fez cinquenta anos, relendo a notícia da época publicada num jornal nacional.
“PELO PAÍS"

9-6-1959


Num trágico acidente de viação próximo da freguesia de Santa Comba de Rossas, do concelho de Bragança, perderam a vida três trabalhadores, tendo igual número sofrido graves ferimentos.
Bragança – Ainda mal refeita, esta região, do trágico acidente de viação ocorrido, na noite de 24 do mês findo, nas proximidades da freguesia de Rio Frio, na Estrada Nacional Bragança - Vimioso, em que perderam a vida três pessoas, já esta mesma região tem a assinalar outro, precisamente com a perda de um mesmo número de vítimas e com outras três que ficaram seriamente feridas e se encontram internadas no hospital da Santa Casa da Misericórdia de Bragança.

Por volta do meio-dia, esta cidade era alarmada com os toques das sirenes de ambulância e do pronto-socorro da nossa corporação dos bombeiros voluntários, que se dirigiam para a freguesia de Santa Comba de Rossas, a uns vinte quilómetros desta cidade, em virtude de terem sido reclamados os seus socorros para um desastre de viação que se tinha dado próximo daquela localidade.

Os cadáveres de três infelizes trabalhadores rurais, já desviados do terreno do lado oposto, onde tinham perdido a vida, ofereciam um espectáculo macabro e aterrador.
Aos gritos do pastor Francisco Martins, solteiro, de dezoito anos, que andava apascentando um rebanho de cabras, a trezentos metros da estrada em que viu a queda da camioneta, rapidamente acudiram trabalhadores e proprietários rurais, que se apressaram a revolver o grande montão de estrume que era transportado pela camioneta sinistrada e sob o qual, infelizmente, se encontravam mortos, por asfixia, os seguintes trabalhadores agrícolas, todos da freguesia de Rebordainhos, próximo daquela de Santa Comba de Rossas: José Telmo dos Santos Pires, de 25 anos, casado com Assunção Nazaré Martins Pires, de quem deixa uma filhinha de cerca de um ano e outra de dois de idade, e que estavam casados havia menos de três anos; João Baptista Martins, cunhado daquele, solteiro, de 16 anos, filho de Graciano Augusto Martins e de Carminda Pires, também moradores em Rebordainhos; e Humberto dos Santos Silva, solteiro, de 41 anos, filho de Maria da Silva já falecida.
Dentro da cabina, desesperadamente ainda agarrado ao volante e num estado de completa inconsciência, foi retirado o involuntário causador do trágico acidente, o motorista Sr. Alberto Teixeira Lopes, natural de Soeira, concelho de Vinhais, há cerca de dois meses residindo naquela localidade de Rossas, e ao serviço do Sr. João de Deus Manso, proprietário agrícola e dono da camioneta sinistrada, uma “Commer”, com a matrícula MT-33-05.

O referido motorista, de 39 anos, é casado com a Sr.ª Dª Teresa de Jesus Lopes, que vive com duas filhas nesta cidade. A seu lado viajava o Sr. António João Pires, casado, de 44 anos, proprietário também da freguesia de Rebordainhos.
De cima da carga do estrume, além dos três mortos vinham, ainda, os seguintes trabalhadores, também de Rebordainhos: Domicilio Martins, solteiro, de 20 anos, irmão e cunhado, respectivamente, dos malogrados João Baptista Martins e José Telmo dos Santos Pires; Fernando António Pereira, de 19 anos, e Cândido Augusto Pires, de 20 anos, ambos solteiros. Estes dois últimos pouco ou nada sofreram, infelizmente outro tanto não aconteceu com o Domicílio, que sofreu fractura do braço direito e ferimentos na perna esquerda.

Devido ao violento choque traumático sofrido, e sem que apresentem quaisquer fracturas ou ferimentos de verdadeira gravidade, também ficaram hospitalizados o motorista e o proprietário e dono do estrume, Sr. António João Pires, que vão ser devidamente radiografados, assim como o referido Domicílio Martins.
Logo após tão brutal acidente, passava em direcção à povoação de Fermentãos, freguesia de Sendas, deste concelho, conduzindo uma furgoneta, o Sr. Modesto Josué Esteves, que se prontificou a trazer para o hospital os feridos António João Pires e Domicílio Martins. Na ambulância e pronto-socorro dos bombeiros voluntários locais vieram depois o motorista da camioneta sinistrada e os restantes feridos.
Depois de ter percorrido a estrada municipal que liga Rebordainhos à estrada nacional Bragança - Mirandela (EN 15), quando entrava na mesma derrapou violentamente voltando-se, acto continuo, sobre o lado esquerdo, entre a valeta e a barreira talude do lado esquerdo daquela estrada nacional, dando-se então o derramamento da carga que transportava para cima dos malogrados trabalhadores que teriam tido morte imediata por asfixia, salvando-se aqueles que felizmente tiveram melhor sorte.

Antes de se tombar, a camioneta foi embater, violentamente, contra a placa de sinalização de mármore, que se encontrava na margem esquerda da estrada e que ficou totalmente destruída, o que teria contribuído para o trágico acidente não ter assumido maiores proporções.

Dentro de pouco tempo, e por a localidade de Rebordainhos ficar a uns 3 escassos quilómetros do local em que se deu o acidente, compareceram ali numerosos familiares dos infelizes mortos e dos feridos, todos de condição humilde. Pode dizer-se pois, e com grande tristeza, que toda aquela laboriosa e pacata freguesia de Rebordainhos se encontra de luto.

- O Ajudante do Procurador da República, neste círculo judicial, Sr. Mário Augusto Fernandes Afonso, depois de ter recebido a comunicação da GNR, além de ter procedido às necessárias investigações, autorizou a remoção dos cadáveres para a sua terra de Rebordainhos.
O involuntário causador de tão funesto e deplorado acidente de viação, logo que tenha alta do hospital, onde se encontra, será entregue pela GNR ao poder judicial, que fará o apuramento das responsabilidades que possa ter ou não no mesmo desastre.”

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Nota: Esta notícia poderá ter sido escrita pelo senhor Abel Monteiro, um jornalista muito conhecido à época e que residia em Bragança, e publicada num jornal do Porto.


P.S. Este texto foi-me enviado pelo Sr. Amílcar Pires

7 comentários:

Augusta disse...

Céu:
Mais uma amostra da tua imensa capacidade. Obrigada pela recolha e PARABÉNS.

Fátima Pereira Stocker disse...

Céu

Então, agora, roubas-me o ofício? Estou a brincar, já se vê! Deixaste-me muito contente por teres encontrado esta notícia, por te teres dado ao trabalho de a transcreveres e por estares a dar vida a este blog. Obrigada e parabéns!

Copiei parte da notícia para o Rebordainhos porque, aqui atrás, houve uma discussão interessante sobre quem era um dos filhos do tio Grilo representado numa fotografia. O artigo veio mesmo a calhar!

Beijos

Céu disse...

Augusta e Fátima

Obrigada pelo elogio, mas o seu a seu dono.

Este empenho foi essencialmente do Amílcar, embora tivéssemos todos conversado sobre este assunto e eu tenha estado também envolvida.
Foi-me enviado assim como está por ele, para publicação e já tinha pensado escrever ao fundo isso mesmo, mas ainda não tinha tido tempo.
De qualquer forma obrigada.
Beijinhos
Céu

Fátima Pereira Stocker disse...

Sr. Amílcar

Que bom trabalho! E agora que começou, faça o favor de nos dar mais!

Beijos

Anónimo disse...

Céu: são recordações dolorosas, mas uma iniciativa digna de quem se lembra de homenagear, todos os que pertenceram e pertencem à nossa terra amada,sem destinção, fazendo abstracção de posições sociais.Na minha memória está ainda gravada a dor, que invadiu, não só os familiares como toda a Aldeia.Uma corrida desesperada para chegar ao local, e uma constatação desastrosa.
A todos os familiares deixo, os meus sentimentos de apreço e conforto, e que Deus os tenha em bom lugar todos os que para ele se dirigiram.
Parabéns á (ASCRR) e seus trabalhadores. António Brás Pereira

Céu disse...

António

Eu também me lembro da tia Ascenção vir com um feixe à cabeça e ao saber da notícia, atirou com ele e destou a correr, caminho abaixo em total desespero.
Quanto ao homenagear sem distinção de posições sociais, tens toda a razão. Para mim, todo o ser humano é igual, independentemente do berço onde nasceu. Pelo contrário, estive sempre do lado dos mais desfavorecidos, pois os que o são, já têm tudo.
Beijos
Céu

Céu disse...

Amigos

Tinha dito aqui que a tia Ascenção nos tinha facultado o jornal.

Queria rectificar que o nome correcto, é Assunção, ao contrário do que escrevi.
Bjs