Nome comum: Carvalho-negral
Nome científico: Quercus pyrenaica Willd.
Distribuição: Península Ibérica, litoral atlântico de França e Norte de Marrocos
Curiosidades: na escassez de pasto as folhas servem de forragem aos animais domésticos; o bugalho, que muitos julgam, erradamente, tratar-se de um fruto dos carvalhos, não é mais do que a reacção da planta à picada de um insecto - que utiliza a excrescência produzida para albergar o respectivo ovo.
O carvalho-negral é uma árvore de copa ampla e arredondada, que raramente ultrapassa os 20 metros de altura. Em Portugal (...) podemos encontrá-lo sobretudo no interior Norte, até porque se adapta bem aos solos graníticos e xistosos
Quem nunca atravessou um carvalhal, não imagina quão errado é chamar "floresta" a uma plantação de eucaliptos. O que esta tem de estéril, aquele tem de diversidade; o que a última tem de facilidade de ignição e de combustão, o primeiro tem de capacidade retardadora do fogo; um eucaliptal esvazia aquíferos e empobrece os solos, enquanto o carvalhal tem, precisamente, o efeito oposto. A velha chaga lusitana dos fogos de Verão deve muito mais às extensas monoculturas de eucalipto e de pinheiro do que à sempre invocada - e aparentemente interminável - "falta de meios de combate". Hoje, mais de metade do coberto arbóreo nacional não é mais do que um explosivo paiol com pouca relevância biológica - uma realidade que todos os políticos e técnicos florestais conhecem, mas que tarda a ser invertida. Por isso, é mais do que altura de dar a conhecer um velho resistente da flora autóctone; uma espécie cujos bosques não só contribuem para a conservação da água, do solo e da biodiversidade, como também representam uma simultânea mais-valia paisagística e económica; ou seja, aquilo que devia ser a nossa floresta.
O carvalho-negral pertence à família das Fagáceas, que agrupa carvalhos de folhas caduca e persistente (como o carvalho-alvarinho, o sobreiro ou a azinheira, todos do género Quercus) e também o castanheiro. É uma árvore de copa ampla e arredondada que raramente ultrapassa os 20 metros de altura, com um troco mais ou menos regular e uma casca acinzentada que vai ficando fendida com a idade. As folhas aparentam-se à de outros carvalhos de folha caduca, mas distinguem-se destes pelo recorte mais pronunciado (que vai quase até à nervura) e um toque aveludado em ambas as faces, mais evidente na inferior. Como fruto, produz uma bolota muito variável, entre a forma cilíndrica e elipsóide, que amadurece em Outubro e que é apreciada tanto pelo gado como por alguns animais selvagens associados a estas manchas florestais, como é o caso do javali. Em Portugal podemos encontrar esta espécie sobretudo no interior Norte, até porque se adapta bem aos solos graníticos e xistosos, ao mesmo tempo que suporta bem a neve, as geadas e o frio característico das serranias superiores a 1.000 metros.
O reino de Torga
Entre estes locais, aquele que mais se destaca pela extensão e qualidade do ecossistema é a serra da Nogueira, às portas de Bragança. Quando seguimos pelo IP4 e passamos o alto de Espinho, na serra do Marão, é curioso verificar como a paisagem muda para melhor. Daí até pouco depois de Macedo de Cavaleiros, atravessando toda a Terra Quente transmontana, o cenário tem sempre algo interessante para oferecer - sejam bosques caducifólios ou mistos (onde o eucalipto é raro ou inexistente), olivais ondulantes, ou um dinâmico mosaico agrícola em doses equilibradas com o meio natural. Mas, para mim, é sobretudo quando entramos na Terra Fria, logo a seguir a Macedo, que o "Reino Maravilhoso" de Torga assume todo o seu esplendor: do lado esquerdo da estrada ergue-se a Nogueira, e com ela uma das maiores manchas de carvalho-negral da Península Ibérica.
Não importa propriamente de que lado abordamos a serra. Tanto faz subir pelo lado nascente, pelas aldeias de Castro de Avelãs, Gostei e Formil, como descer por Carrazedo, Alimonde e Conlelas, do lado poente; ou então seguir directamente pela estrada 206 para atingir os 1320 metros da Nossa Senhora das Neves. O que é certo é que veremos sempre carvalho-negral, ora em rebentos densos de porte arbustivo, ora em bosques mais maduros, numa bela paisagem que carrega o paradoxo dos tempos modernos: é simultaneamente extensa e residual.
É este, pois, o reino de eleição de grandes mamíferos ibéricos, como o lobo e o corço, e de uma profusão de outras espécies da fauna e da flora, sem esquecer as centenas de cogumelos e fungos que despontarão às primeiras chuvadas do Outono que se aproxima. Uma biodiversidade ímpar que se deve, em boa parte, à presença e predominância do carvalho-negral.
E como estes carvalhais sempre estiveram intimamente ligados ao modo de vida transmontano, nada melhor do que fechar a viagem com uma visita aos bons museus de Bragança: da Máscara e do Traje, Abade de Baçal, Graça Morais e Ciência Viva.
António Sá in Público, suplemento Fugas de 20 de Agosto de 2008
O carvalho-negral pertence à família das Fagáceas, que agrupa carvalhos de folhas caduca e persistente (como o carvalho-alvarinho, o sobreiro ou a azinheira, todos do género Quercus) e também o castanheiro. É uma árvore de copa ampla e arredondada que raramente ultrapassa os 20 metros de altura, com um troco mais ou menos regular e uma casca acinzentada que vai ficando fendida com a idade. As folhas aparentam-se à de outros carvalhos de folha caduca, mas distinguem-se destes pelo recorte mais pronunciado (que vai quase até à nervura) e um toque aveludado em ambas as faces, mais evidente na inferior. Como fruto, produz uma bolota muito variável, entre a forma cilíndrica e elipsóide, que amadurece em Outubro e que é apreciada tanto pelo gado como por alguns animais selvagens associados a estas manchas florestais, como é o caso do javali. Em Portugal podemos encontrar esta espécie sobretudo no interior Norte, até porque se adapta bem aos solos graníticos e xistosos, ao mesmo tempo que suporta bem a neve, as geadas e o frio característico das serranias superiores a 1.000 metros.
O reino de Torga
Entre estes locais, aquele que mais se destaca pela extensão e qualidade do ecossistema é a serra da Nogueira, às portas de Bragança. Quando seguimos pelo IP4 e passamos o alto de Espinho, na serra do Marão, é curioso verificar como a paisagem muda para melhor. Daí até pouco depois de Macedo de Cavaleiros, atravessando toda a Terra Quente transmontana, o cenário tem sempre algo interessante para oferecer - sejam bosques caducifólios ou mistos (onde o eucalipto é raro ou inexistente), olivais ondulantes, ou um dinâmico mosaico agrícola em doses equilibradas com o meio natural. Mas, para mim, é sobretudo quando entramos na Terra Fria, logo a seguir a Macedo, que o "Reino Maravilhoso" de Torga assume todo o seu esplendor: do lado esquerdo da estrada ergue-se a Nogueira, e com ela uma das maiores manchas de carvalho-negral da Península Ibérica.
Não importa propriamente de que lado abordamos a serra. Tanto faz subir pelo lado nascente, pelas aldeias de Castro de Avelãs, Gostei e Formil, como descer por Carrazedo, Alimonde e Conlelas, do lado poente; ou então seguir directamente pela estrada 206 para atingir os 1320 metros da Nossa Senhora das Neves. O que é certo é que veremos sempre carvalho-negral, ora em rebentos densos de porte arbustivo, ora em bosques mais maduros, numa bela paisagem que carrega o paradoxo dos tempos modernos: é simultaneamente extensa e residual.
É este, pois, o reino de eleição de grandes mamíferos ibéricos, como o lobo e o corço, e de uma profusão de outras espécies da fauna e da flora, sem esquecer as centenas de cogumelos e fungos que despontarão às primeiras chuvadas do Outono que se aproxima. Uma biodiversidade ímpar que se deve, em boa parte, à presença e predominância do carvalho-negral.
E como estes carvalhais sempre estiveram intimamente ligados ao modo de vida transmontano, nada melhor do que fechar a viagem com uma visita aos bons museus de Bragança: da Máscara e do Traje, Abade de Baçal, Graça Morais e Ciência Viva.
António Sá in Público, suplemento Fugas de 20 de Agosto de 2008
Fotografias de Fátima Stocker
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